Kǒng Fūzǐ, ou Confúcio, como se usa em português, dizia perguntando:
«Se ainda não conheces a vida, como podes pretender conhecer a morte?».
Pois. É que no tempo dele não
havia Internet. Se ele agora aqui chegasse seria reduzido ao espanto e ao
silêncio, que isto está cheio de sábios que tudo sabem e tudo debitam com a
razão empedernida dos tiranos e a falta de dúvidas dos tolos.
Estes sábios cibernéticos até em
Quanta são peritos, embora quanto a respeito digam seja de pôr os cabelos em pé
aos investigadores da área, que, sendo uma minoria, não ousam nem têm pachorra para
contrariar esta maioria de pulgas falantes. As ditaduras de maioria são bem
piores que as ditaduras de minoria, elas impõem a ignorância pesporrente e o que
de pior há em todos nós pelo peso e pelo número e não distinguem a verdade da
mentira. As ditaduras de minoria. quando mentem sabem que mentem, e mentem
porque mentindo lucram. As ditaduras de maioria nada lucram quer mintam quer
falem verdade, querem apenas fingir que vivem. Afinal, bem andava Pessoa
falando dos cadáveres adiados que procriam.
Nas sociedades actuais, onde tudo se compra, tudo se vende e
tudo se vilipendia, as massas urbanas foram afastadas do saber de experiência
feito, de que falava Camões. Afinal, compramos tudo feito e vamo-nos parecendo
cada vez mais com os smartphones. Os putos na escola já vão dizendo: «então o “Setor”
quer saber mais do que a NET?»
Experiência, experiência, foi-se. E no caso da curva da
estrada que é a morte, de nascer todos tivemos a experiência que mal ou nada
recordamos; de morrer, apenas a temida expectativa, por vermos morrer os outros
à nossa volta. Deveríamos ter, de ambas as coisas, uma profunda e comprovada
certeza: ninguém nasce por nós e ninguém morre por nós. E isto é tão certo para
aqueles que acreditam que a morte é o fim de todas as dores e de todas as
alegrias, a aniquilação total da nossa existência, como para os que acreditam
na vida para além da morte.
O mistério da morte, como tudo o mais, anda bastante afastado
das nossas reflexões. Nós não reflectimos, não precisamos, está tudo na NET.
Afinal, vivemos neste exílio do pronto a comer, pronto a vestir, pronto a
pensar e, sobretudo, pronto a dizer. Do mistério da morte ficou-nos apenas a bíblica
cultura do sentimento de culpa e de culpabilização. Morreu-nos alguém no
hospital? Foi negligência médica. O que é que alguém fez de mal para ter
morrido de morte súbita?
Por que nascemos? Por que morremos? Lao Tze dizia: «Nascer é
chegar, morrer é regressar», o que implica uma crença em vida para além da
morte. Tudo bem. Mas se é para voltar para o mesmo sítio, porquê nascer? Dizem
alguns, com aquela certeza que só a NET e as seitas de colesterol mental
vendem, que andamos por aqui para aprender. Não seria mais simples dizer-se que
se nasce porque sim e se morre porque sim? que nascer e morrer são dois
aspectos da vida e que a finalidade da vida é apenas viver? Que o digam as
árvores e as flores, que não vão à missa nem consultam a Wikipédia.
Eu não sei. O leitor sabe? Sabe, ou tem, aprendida algures, uma
resposta pronta que lhe apazigua o medo e lhe abafa a dúvida?
Sabe? É que há quem diga que o Além, a alma, coisas que não
possam ser testadas e medidas são superstição e obscurantismo que derivam dos nossos
medos atávicos e são promovidas pelas religiões e pelos ocultistas.
Deixemos aqui as perguntas básicas:
- Haverá vida para além desta vida material e biológica?
- A consciência, isto é, o eu sobrevive ou não à extinção das
funções vitais do corpo?
Quem saiba de
experiência feita que o diga; quem apenas creia, pergunte-se por que crê assim
e não crê assado.
Ah! E atenção, nada de testemunhos de terceiros e coisa e
tal. Nem das tais experiências de EQM. Deixemos o subjectivo ao subjectivo, sem
prejuízo de conversarmos, com a premissa de que ninguém diga é assim, porque
está na Bíblia ou o disse Einstein.